O dia hoje é de vitória. Nadege Ndengue chegou a Portugal no dia 13 de setembro de 2019. Viu-se obrigada a deixar os filhos nos Camarões, o seu país de origem. Quase cinco anos depois, através de um reagrupamento familiar, aconteceu o esperado reencontro.
Não existe no mundo espera mais lenta do que os segundos, os minutos, os meses, os anos, que esperamos para reaver um filho. Não existe espera mais sôfrega no mundo do que aquela que sentimos no coração quando aguardamos que a porta da área das chegadas de um aeroporto se abra e – entre tantas pessoas que dela saem -, nos devolva os nossos. Nadége Ndengue, mulher camaronesa, acolhida em Portugal no dia 13 de setembro de 2019, esperou quase cinco para voltar a abraçar os filhos que se viu obrigada a deixar no seu país de origem.
Não pediu casa, não pediu água, não pediu trabalho, quando em 2019 Nadége se reuniu pela primeira vez com a equipa do Secretariado Técnico da PAR, dos seus lábios e olhos em lágrimas, ouviu-se: “Por favor, ajudem-me a trazer os meus filhos”. Mas não era possível naquele momento: Nadége tinha de tratar de documentos, estabelecer-se, aprender português, arranjar trabalho, começar uma vida, antes de dar início a um processo de reagrupamento familiar.
A promessa foi feita e hoje, dia 23 de julho de 2021, quase dois anos depois desta conversa, o reencontro aconteceu.
Existem tantos momentos bonitos na área de chegadas de um aeroporto que só quem os vive, sabe – existem lágrimas de felicidade, abraços dos quais nunca nos esquecemos, sorrisos atrapalhados -, e depois existem instantes que, dada a carga emocional, desaceleram o tempo e transformam a atmosfera desse sítio de partidas e de chegadas.
A travessia foi dura até chegar a Portugal – depois de alguns anos na Líbia, foi resgatada nos barcos humanitários que se atravessam no Mediterrâneo -, e a espera muito longa até este dia. Hoje, às 15h50, Nadege soltou um grito na área das chegadas do aeroporto de Lisboa quando da porta de correr surgiram Brenda, Beryl e Jhoae, os seus três filhos menores. E foi tranquilo e feliz e desconcertante o que se vivenciou naquele instante: um reagrupamento familiar bem sucedido que superou todos os contratempos burocráticos e legais, dúvidas durante a viagem, uma promessa cumprida e uma certeza – a de que que queremos continuar por aqui a fazer milagres acontecer.
Estão, neste momento, a caminho de Braga onde vão iniciar uma nova vida, a que sempre mereceram.
Este reagrupamento familiar só foi possível porque várias pessoas envolvidas desafiaram o impossível desde a primeira hora. Um agradecimento especial à insuperável, incansável Helena Pina Vaz, diretora do CLIB, que nunca desistiu deste processo; ao Senhor Embaixador de Portugal na Nigéria, Dr. Luís Barros, que com o seu enorme coração esteve sempre disponível para apoiar-nos; à administração da Mota-Engil que nos prestou auxílio no terreno, onde não conseguimos facilmente chegar; à Turkish Airlines; ao GAR. E, por fim, não menos importante, à imparável equipa do Secretariado Técnico da Plataforma de Apoio aos Refugiados que com o seu sentido de missão e coração a ferver de humanidade e vontade, nunca deixou de acreditar que uma promessa feita em 2019, se cumprisse em 2021. Viva!